OS DIAS DO CÃO / rjbernardo@hotmail.com

2004-08-19


Disse-lhe vezes sem conta que fumava para cima de um maço
de cigarros por dia, andava cansado e farto de tudo. Só ao terceiro murro se
convenceu de que falava verdade e que “mais dia menos dia”, nem dinheiro
teria para pagar um café. Sabia perfeitamente do meu estado e das horas no
banco do jardim depois de sair da cama.


Tentou dizer-me as coisas do costume e que a vida não era
bem assim, que há dias de chuva mesmo no Verão e que o rio se vê dos dois
lados da margem. Falou-me ainda de pontes, viagens de combóio e comprimidos que
ajudam na insónia. Achei extraordinário o som do meu pé descalço na sua
boca.