OS DIAS DO CÃO / rjbernardo@hotmail.com

2004-06-19

 d i s o r d e r


O tempo de sedução terminou. Terás de me tocar, terás de trocar o tacto dos olhos pelo tacto dos dedos. Apenas persistirá o jogo, a cumplicidade, e uma ténue vibração do corpo que se perdeu contra o o meu corpo.
Por isso me ergo daqui e atravesso estas imagens coladas às paredes, e ao atravessá-las descubro que estou perdido, e condenado também a perder-te.
Levanto-me do fundo de mim mesmo e abandono a casa, os bens que herdei, e vou pela memória daqueles vestígios que se me cravaram no interior das pálpebras, mas não semeio nem recolho nada. Apenas persigo os passos que outrora abandonei pelas cidades onde te procurei, antes mesmo de saber que existias.
E perco-me, perco-me onde a sombra dos corpos é um sudário de melancolia sobre o mar. Mas, ainda aqui estou, quase vivo, atento ao movimento perene de tuas mãos sobre o meu corpo. E, sem bússola, nómada até aos ossos, sigo pela noite onde aportei e não reconheço a casa que me destinaram para morrer.

A.B. modificado