irás finalmente dizer-me:
O que eu amo em ti
não é esse ar de laranja
e esse olhar de seis da tarde
não é essa mania de mexer o cabelo
nem será a tua educação
O que eu amo em ti
não é essa tua boca de vinho
Nem os livros que leste, nem mesmo

o que sabes ou não sabes.
Não é tão pouco o teu exibicionismo
ou a tua timidez
Nem é o teu andar em marcha vagarosa
nem a doçura, a ternura, a candura,
a loucura, a pura frescura da tua pele de peixe vivo que já não tens
ou o teu cheiro de ar com um resto de perfume
nem o teu carro ( com ar condicionado)
Não, não é nem isso que eu amo em ti.
O que eu amo em ti
não é a tua preguiça esticada ao sol
ensombrada de impressionismo
não são os silêncios de que és feito
nem o instante que povoas
ou o mistério que às vezes te povoa,
Não é esse ar letárgico, trágico, trístico
tanguístico, místico com que te sentas à mesa deste café
e acendes um cigarro
somente para matar o tempo
entre ti mesmo e o mundo
Não é tua voz irónica e sábia
que me diverte os brancos da cabeça
nem mesmo a tua cabeça ou tua espiritualidade
ou a tua força, a tua certeza ou tua fragilidade.
Será a tua beleza?Ah, Ah Não, certamente não será isso
Nem o que amo em ti
é a tua gargalhada
que meu ouvido cheio do sol de Agosto quer ouvir.
Sequer o teu beijo
que te nasce na barba
nem é teu corpo de cão perdido.
Não é bem isso.
O que eu amo em ti
nem é o inesperado
O que eu amo em ti
...é o ar de filho da puta que a tua cara ganha sempre que me deixas sózinha no meio da rua a chorar,
É essa forma macia com que obrigas os outros a dizerem O que amo em ti não és tu!