Tourada de morte

Não me interessam essas desculpas. Julgo mesmo que só dizes merda quando abres a tua boca pequenina. Porque não te calas? É evidente que eu não te acredito. Sabes que reconstruo cada passo do teu dia, sei por andas, conheço o que fazes, esses olhos parvos de gula. Oh! como eu te conheço...o fácil que é imaginar o teu corpo arqueado no limite absurdo de uma cama, oiço mesmo os teus gemidos enquanto te desenho a cara milímetro a milímetro, os olhos semi cerrados, a boca entreaberta, o peito suado; descortino cada espasmo e a forma como os teus movimentos aumentam, uns atrás dos outros, num crescendo animal e sei também como tudo termina, como te deixas morrer suspensa nas cordas invisíveis com a cabeça ligeiramente descaída para trás, num último ângulo de prazer, oferecendo a carne dos lábios ao beijo. Portanto, cala-te. Desaparece, leva esta pasta verde que entorpece as pernas, os braços e me rouba o sono. Os nomes que eu tenho guardados para te chamar...ficarás vermelha, ofendida, deprimida, acho mesmo que chegarás ao choro e não terás como responder: vais ficar sem palavras quando ouvires os nomes que eu tenho para ti. Esse dia está eminente e a minha vergonha terá um fim.
Mas por agora, meu amor, por favor, levanta-te do chão, deixa de fingir que morreste nessa poça de sangue; esta faca não é minha nem é de ninguém, nunca esteve na minha mão nem abriu um único rasgo no teu corpo. Põe-te de pé e resolveremos tudo, como fazemos sempre mas, por favor meu amor, diz-me:
Quem é ele?.