
O amor pode dar-se como pura paixão instintiva, tal como o encontramos nos animais, ou então integrado com factores espirituais num todo superior, como se dá no homem. O amor distingue-se do desejo, é electivo, torna-se ao mesmo tempo capaz de se aprovar a si mesmo; a dependência, que era o sinal da natureza sensível, transmuta-se em movimento de pura liberdade. É no reconhecimento do valor pessoal que sobretudo se manifesta esta passagem. O desejo consistia em reduzir o outro a objecto, o amor é o reconhecimento do que já não é objecto de prazer mas de pura adesão e benevolência. O amor é a tendência da criatura ao bem que o atrai. Nasce sempre de um arroubo, leva-nos para além de nós. Esta inclinação tem, no sentido mais justo do termo, o carácter de um êxtase. Bossuet exprime-lhe com felicidade nestas palavras: Uma força misteriosa que está em nós para nos arrancar de nós próprios, um não sei quê que nos doma e cativa os corações, em poder de outro, que nos leva a depender de outrem e a amar esta dependência