UM HOMEM COM GATOS NOS PULMÕES

O coração tem o desleixo das vizinhas
que penduram roupa empapada de lixívia
sobre os colarinhos quase enxutos, sob
as almas quase despojadas de lascívia.
E nem sequer é novo: o coração do tubarão
é uma cartilagem. Amontoam-se os dias
ao lado de árvores e vem o vento cobrar
favores, alijar os nomes. Economia
de ninfas junto às cataratas; sede crepus-
cular na tracção das nascentes? Nada ilude
a farsa: trocar guelras por dinheiro.
Em miúdo acreditava que outro órgão
oxigenava as palavras. Agora sei:
tossem os gatos e fico mais ordeiro.

A.C.