OS DIAS DO CÃO / rjbernardo@hotmail.com
2004-02-02
Nunca consegui misturar-me nos outros corpos, estão demasiado vivos, doem-me quando lhes toco. Observo-os, uso-os, e no entanto mantêm-se tão distantes. Se calhar envelheci mais depressa ao tocá-los. A dor vai sulcando o rosto e comprimindo o coração, não sei... talvez seja apenas o receio da noite com os seus desmedidos poços de cinza. (...) No fundo estou-me nas tintas para isto tudo. Tornei-me ladrão. Roubo-lhes um beijo, uma erecção, um gemido de esperma, uma carícia... roubou-lhes tudo o que posso e estou-me nas tintas... é isso mesmo, estou-me nas tintas para o que pensam. Nada tenho a perder, a sedução é uma das artes do ladrão, raramento me deixo roubar. Mas que te importa tudo isto, ? Sossega, sossega porque o mundo está sujo de indiferença.
A.B.