Fogos - deixar arder
É impossível não voltar a este tema. Conheço o fogo, já o vi, senti e conheci-lhe a sede; mas conheço melhor os servos do lucro e as 50 definições possíveis da palavra especulação. Assisto há mais de uma semana ao arder lento (mas implacável) do país. Assusto-me com a o formato jornalistico da desgraça, com o medo dos homens e arrependo-me das conversas no café. Lentamente, sem quase dar por isso, a minha preocupação nervosa vai dando lugar à prostração. Decido-me pela incapacidade, minha e tua, para apagar os Fogos.
Não encontro mais que dizer
Gostei de ler:
INCÊNDIOS
Nestes momentos, que todos sabemos serem difíceis, falar de outras coisas pode parecer escapismo, mas também falar delas é, muitas vezes, ruído. A destruição de uma parte de Portugal pelos incêndios, é apenas uma parte de outras destruições mais lentas, menos visíveis, menos dramáticas, mas nem por isso menos eficazes. As razões de umas e outras são mais próximas do que parecem, remetem para um laxismo governamental muito antigo, para a diluição das autoridades intermédias que não cumprem as suas responsabilidades, e para resistências sociais profundas. É tudo menos um problema de dinheiro.
As causas dos incêndios são conhecidas (todos os estudiosos da nossa floresta sabem porque é que ela arde), são complexas (porque mexem com o tecido social, com a propriedade e com as mutações no uso económico da floresta) e tem soluções também conhecidas, embora menos fáceis do que neste momento de indignação parecem.
Quando passarem os incêndios é uma discussão a que se deve voltar. De fundo e a fundo. Agora é natural a indignação e que, quem possa fazer alguma coisa, faça.
in Abrupto
por f.p.p.
OS DIAS DO CÃO / rjbernardo@hotmail.com