OS DIAS DO CÃO / rjbernardo@hotmail.com

2003-08-18

Agosto I

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Ainda que seja Agosto,
Ainda que acordes só depois da preguiça te morrer na mão fechada
e descalça atravesses o corredor da casa em direcção aos dias quentes,
Ainda que escolhas com máximo cuidado o factor de protecção do teu bronzeador,
Ainda que sorrias em frente ao espelho porque o sol te deixou mais bonita e, finalmente, tens os sonos em dia,
Ainda que uses um vestido curto de algodão verde por cima do biquini comprado no inverno,
Ainda que bebas leite gelado do pacote e um fio branco escorra pelo teu lábio numa curva maternal,
Ainda que saias para a rua de óculos escuros numa pose de insecto altivo metamorfoseado em desejo,
Ainda que estendas a toalha numa nuvem de areia e observes a praia das tuas ferias,
Ainda que os corpos dos outros confundam a nossa nossa cama.
Ainda que o mar seja manso e o mergulho um sonho marítimo capaz de asfixiar o que ainda é real.
Ainda que regresses à toalha para duas horas de sol, um litro de água fresca e três capítulos do último policial de capa dura.
Ainda que sejam 7 da tarde e exijas de tudo uma presença maior e mais verdadeira e te lembres do jantar ,
Ainda que à mesa de uma esplanada qualquer brindes a cor do marisco com vinho branco gelado.
Ainda que chupes os dedos enquanto te ris .
Ainda que ele diga, com uma educação de fazer corar, Should we go for a drink , estendendo-te uma mão de cinco dedos compridos,
Ainda que o bar seja agradável, as bebidas verdes e a musica de fazer chorar.
Ainda que a noite termine no melhor hotel da cidade e amanheças ao colo de uma vida melhor,
Lembra-te ... eu posso fazer-te pior.
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